Médico Oncologista, Cientista e Escritor. Aprovado em 2º lugar na USP, conhecido por popularizar a informação médica no Brasil, através de aparições no rádio, TV e pela Internet, com site e canal no YouTube. Um dos fundadores da Universidade Paulista e da Rede Objetivo, onde lecionou física e química durante muitos anos. Crítico da medicina alternativa.
As cirurgias para tratamento da obesidade grave estão cada vez mais populares.
Recebe o nome de bariátrica esse tipo de operação, na qual o volume do estômago é reduzido radicalmente e, conforme a técnica, o comprimento do intestino também.
É intervenção de alta complexidade que requer internação hospitalar muitas vezes prolongada, UTI, disciplina na dieta, mudanças comportamentais, prática regular de atividade física e acompanhamento médico pelo resto da vida. Por meio dela, os pacientes trocam uma doença difícil de tratar e cheia de complicações como a obesidade, por outra de curso mais benigno: a desnutrição crônica.
Os benefícios obtidos com o passar dos anos graças ao tratamento cirúrgico foram bem documentados em pelo menos dois estudos.
No primeiro, pesquisadores suecos compararam as evoluções de 2.010 portadores de obesidade grave submetidos à cirurgia, com 2.037 outros tratados clinicamente. Num período de 15 anos de acompanhamento, a mortalidade do grupo operado foi 24% mais baixa.
No segundo, conduzido nos Estados Unidos, os autores estudaram a evolução de 7.925 obesos operados, ao lado de um grupo com características comparáveis tratado clinicamente. Depois de sete anos, em média, a operação havia diminuído 40% do risco de morte. A mortalidade por diabetes havia caído 92%; por ataque cardíaco, 59% e por câncer, 60%. Inesperadamente, as mortes por acidentes e suicídios aumentaram 58% entre os operados. Ainda assim, o balanço geral foi favorável à cirurgia.
Além da redução da mortalidade, a indicação cirúrgica nos casos graves (e apenas nestes) traz outra vantagem: o tratamento clínico das complicações da obesidade custa para o sistema de saúde 6 vezes mais do que o cirúrgico, uma vez que a perda de peso induzida pela cirurgia pode curar o diabetes, facilitar o controle da hipertensão, do colesterol e simplificar a correção de problemas ortopédicos, além de melhorar a qualidade de vida.
A popularização das cirurgias bariátricas, no entanto, trouxe preocupações com a segurança do procedimento. Não são poucos os que perdem a oportunidade de se beneficiar dele, por medo de perder a vida na operação.
Acaba de ser publicado o primeiro estudo multicêntrico que avalia as complicações imediatas da cirurgia bariátrica em obesos portadores de uma ou mais das seguintes condições: hipertensão, apneia do sono, diabetes, asma, inchaço e ulcerações nos membros inferiores, doença coronariana, tromboembolias, dependência de oxigênio suplementar, incapacidade de andar 60 metros, insuficiência cardíaca e outras.
A pesquisa foi realizada em 13 hospitais americanos que recrutaram 4776 portadores de obesidade grave, com a finalidade de documentar as complicações das três principais técnicas de cirurgia bariátrica, ocorridas no decorrer dos 30 primeiros dias do período pós-operatório.
Os números não foram muito diferentes daqueles encontrados em outras cirurgias do aparelho digestivo: mortalidade, 0,3% (três em cada mil casos operados); complicações mais graves, 4,1% dos pacientes.
Os fatores associados a maior risco de complicações imediatas foram índice de massa corpórea (IMC = Peso/altura x altura) acima de 53, história pregressa de apneia do sono, incapacidade de andar 60 metros, trombose venosa ou embolias.
Desde 1991, existe um consenso internacional sobre as indicações da cirurgia bariátrica: IMC maior ou igual a 40; IMC maior ou igual a 35, quando houver estados mórbidos associados (hipertensão e/ou diabetes difíceis de compensar, limitações ortopédicas, apneia do sono e outras); fracasso no tratamento clínico após 2 anos; obesidade grave instalada há mais de 5 anos.
Segundo o Ministério da Saúde, existem cerca de 2 milhões de pessoas com IMC > 40, no Brasil. Como esse número aumenta 3% ao ano, surgem 5 mil casos novos por mês.
Operar esse contingente exigiria recursos financeiros, centros hospitalares, cirurgiões e outros profissionais especializados que o país não dispõe em número suficiente. A sobrecarga nas costas do sistema de saúde seria enorme.
Precisamos urgentemente de tratamentos clínicos eficazes e de programas de prevenção que reduzam os casos de obesidade a ponto de tornar a cirurgia desnecessária ou indicada apenas situações especiais.