Menor pressão nos juros internacionais, dados mais favoráveis de crescimento e manutenção
da responsabilidade econômica reverteram a crise de confiança do começo do ano.
Após a tempestade perfeita do primeiro trimestre, houve uma melhoria substancial do humor
dos investidores a partir de abril. O começo do ano trouxe uma combinação atípica de eventos, trazendo elevada volatilidade, incertezas e uma crise de confiança. No cenário global, os fortes estímulos fiscais anunciados nos Estados Unidos levaram a revisões para cima no crescimento global, com repercussões
importantes sobre preços de commodities e expectativas de inflação e juros nos Estados
Unidos.
Internamente, a força da segunda onda de contágio e as dificuldades com relação ao avanço
da vacinação foram acompanhadas por maiores incertezas políticas e fiscais. A popularidade
do governo mostrou queda ao mesmo tempo em que a maior pressão por gastos acompanhou
as discussões sobre a PEC emergencial e o orçamento.
Na mesma linha, trocas no comando de empresas estatais incentivaram leituras de que estava em curso uma guinada populista na gestão da economia. Por último, a inesperada decisão do STF no início de março de cancelar o julgamento do ex-presidente Lula antecipou as eleições presidenciais, reforçando as dúvidas em relação às escolhas de política econômica de curto e longo prazos.
Todos estes eventos internos e externos levaram a movimentos relevantes de preços de ativos, afetando a confiança e as expectativas de crescimento. A taxa de câmbio saiu de um patamar de 5,20 ao final de 2020 para cerca de 5,80 no início de março, deteriorando ainda mais as expectativas de inflação, que saíram de um nível de 3,3% no começo do ano para cerca de 5,0% ao final do primeiro trimestre. Com isso, o contrato de um ano dos juros futuros saltou de um patamar de 3,0% para cerca de 5,5% e a bolsa brasileira interrompeu sua trajetória de alta, se descolando dos mercados globais.
Como resultado a confiança de empresários e consumidores mostrou um tombo em março e influenciou negativamente as expectativas de crescimento, sugerindo um novo ano de frustrações. A média das projeções caiu de 3,5% para 3,0% em apenas três meses.
Este cenário de elevado pessimismo, no entanto, começou a mostrar reversão a partir de meados de abril. Vários fatores contribuíram para isso. Globalmente, os juros de 10 anos dos títulos públicos nos Estados Unidos interromperam a forte aceleração e recuaram em abril.
No Brasil, o avanço da vacinação e os sinais de estabilização da pandemia reduziram as tensões
fiscais e políticas. Apesar das incertezas geradas pelo processo legislativo, as regras fiscais foram, mais uma vez, respeitadas e não se confirmou uma guinada populista, mesmo em um ambiente de maior competitividade política.
Pelo contrário, o programa de concessões e privatizações mostrou avanços e a superação das
discussões sobre aumento de gastos por conta da pandemia abriu espaço para a retomada da
agenda de reformas.
Mais importante, os dados de atividade em janeiro e fevereiro foram melhores que o esperado e não confirmaram a retração temida com o fim do auxílio emergencial. Na mesma linha, a leitura é que os impactos da segunda onda sobre a atividade econômica devem ficar concentradas em março, não comprometendo o crescimento do ano. Por último, várias análises consideram um cenário de euforia após a superação da pandemia no mundo, repetindo a experiência da gripe espanhola no último século.
Este novo ambiente fez com que a taxa de câmbio e a bolsa no Brasil voltassem para os patamares de dezembro de 2020. Este alívio é bem-vindo, mas é preciso alguma cautela. A própria oscilação de humor já é uma informação em si e mostra a dificuldade em se antecipar cenários em um contexto marcado por choques sucessivos.
Isso porque a elevada dívida pública no Brasil expõe o País a choques em um ambiente propenso a acidentes. A pandemia tem sido fonte de surpresas contínuas, tanto no que se refere às novas ondas quanto à oferta de vacinas. O debate sobre política monetária nos Estados Unidos deve ganhar intensidade nos próximos meses, com resultados incertos sobre os mercados emergentes. No Brasil, a corrida eleitoral já teve início e os investidores devem atribuir peso crescente às incertezas políticas.
Neste contexto, é preciso desconfiar dos extremos. Os mercados continuam com movimentos atípicos, oscilando entre pessimismo e otimismo o tempo todo. Dificilmente o cenário no Brasil é tão ruim quanto as projeções mais pessimistas de março ou tão positivo quanto pode sugerir o otimismo recente.
Neste caso, embora haja bons motivos para se considerar um cenário sem ruptura, parece
muito cedo para se trabalhar com um quadro de euforia.